Durante muito tempo a literatura foi um espaço ocupado somente por homens. Graves, com óculos fundo de garrafa e a certeza de ser importante. Tanto, que recentemente, quando também as mulheres lutaram por esse posto de importância, tivemos a experiência de uma literatura completamente diferente, parecendo de um outro planeta. É só que não estamos acostumados a ler mulheres, a perceber seu calvário, a ouvir o que falam – sempre mais impactante do que uma vida de privilégios.

Talvez por isso o tema da amamentação tenha sido poucas vezes visitado nos escritos. Porque, verdadeiramente, não me ocorre nada mais poético e bonito do que a experiência concreta de transferência íntima dos nutrientes mais básicos à vida, onde literalmente ninguém vive se não passar pelo seio de uma mulher, pelo útero de uma mulher, por uma mulher. As mães que também ensinam a viver é que permitem viver, nesse mundo tão hostil. Se soubessem os homens dessa beleza, talvez hoje passearíamos na Cultura, na Saraiva, em qualquer livraria de esquina, por centenas de exemplares, estantes, seções: amamentação, amamentação, amamentação. 

Não é por questão de limitação da língua. Não é porque faltam palavras. A poesia, a literatura, nenhuma dessas é culpada de sermos privados de ler, de conhecer essa poética. Ainda bem que existe a fotografia.